quarta-feira, 30 de março de 2011

o Câncer de Gaia



         A Natureza como um todo era um organismo quase perfeito - conhecido como Gaia -, sempre muito bem capaz de regular sua homeostase mesmo depois de doenças que deixaram engastadas seqüelas² profundas. Até que num certo ponto seu sistema imunológico auto regulador culminou fatalmente no Homo Sappiens, uma variação de células que atuaram como células de um tumor benigno até os animais antecessores seus na linha evolutiva.
          Já na forma de tumor maligno, agindo como tal, passara a usar recursos e matéria natural para desenvolver paralelamente à homeostase de Gaia seu próprio organismo, que tomou proporções cada vez maiores e abrangentes, sofrera metástases e comprometeu cada vez mais todo o organismo de Gaia. Esse câncer se chama Humanidade.
      Seu meio de propagação são os Seres Humanos,  nome dado aos homo sappiens pós-fase-benigna, que sofreram o complexo de castração - libertação parcial das leis de Gaia - e foram capazes de perpetuar seu código genético maligno através do que chamamos cultura, que é a capacidade de perpetuar a memória através de símbolos e transcender a vida útil das células malignas. Com o passar dos séculos o câncer foi evoluindo numa velocidade cada vez maior e os seres humanos foram usando o poder de seu fluído para deformar cada vez mais o organismo de Gaia reestruturando-o a seu próprio favor (chamamos isso de Civilização), o que não significa necessariamente que a Humanidade seja um organismo próspero: suas células são auto imunes, ou seja, capazes de sacrificarem a sobrevivência ou bem-estar de suas semelhantes em sua própria tentativa de sucesso, além de muitos outros revertérios, distúrbios, transtornos que essas células sofrem por sua incapacidade quase crônica de prosperar em paz. 
            Gaia sempre fora assim, seu sistema auto-imunológico era movido à aventura do próprio acaso, lidando com embates infindáveis; sempre fora o movimento por excelência, mas com a perfeição de não ter consciência de nada disso - simplesmente funcionava. Afinal, de Gaia somos apenas células disfuncionais.


        A única forma de curar esse câncer da pobre e imperfeita Gaia seria remover todas as células doentes - a Humanidade - mesmo que mantendo as deformações do organismo. A única forma de matar Gaia seria um distúrbio grave na ordem das galáxias, que são tão imperfeitas quanto Gaia.




¹de Próstata para estatisticamente apresentar Gaia da forma mais antropomórfica possível.
²eu e meu corretor ortográfico somos conservadores: o trema serve para distingüir a pronúncia.
³para saber como me sinto a respeito da fascinante metáfora deste texto, leia o texto Obra Prima neste mesmo Blog.
³+¹ o texto está sujeito a coreção

Um comentário:

  1. Zé Juninho
    somos sim um mal a Gaia,
    mas creio que cada ser é um ser.
    Não acho que nós sejamos iguais à maioria, apesar de estarmos misturados nessa massa.
    Gosto de suas palavras, uma vez li um livro de mitologia que conta a história de Gaia, de como ela surgiu e de como se fez a distinção entre deuses e homens, e foi uma cagada de um cara chamado Perseu, mas em partes essa cagada deu certo... Estamos aqui, pensando, fazendo...
    Muitos beijos da Macabéa

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