terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Olhar no horizonte, pé no chão (contra Masturbação Mental)

         Estive lendo uma matéria na revista Mente e Cérebro de janeiro que fazia uma abordagem neurocientífica do processo envolvido na objetivação de um desejo. O processo foi descrito em três etapas: (1) existe o desejo em forma latente até que (2) acaba escolhendo um objetivo por meio de um adiantamento do prazer da recompensa e (3) um planejamento mental e muscular para alcançar o objetivo. Funciona assim, (1) quando o desejo dá uma caminhada rotineira pelas possibilidades acaba despertando a atenção ao passar por uma possibilidade que acione a região do prazer e recompensa no cérebro, como se fosse um adiantamento imediato do prazer e recompensa que trariam o atingir este objetivo, levando o sujeito a (2) fazer uma masturbação mental sobre o objetivo já alcançado. A (3) última etapa seria um planejamento muscular ou mental do processo de execução para se atingir o tal objetivo.
           A maioria das vezes funciona só até a segunda etapa. A nível de ilustração, funciona igual com o pedreiro que veio aqui em casa: (1) entre tantos outros foi o que foi indicado por alguém e (2) após selecionado começou trabalhar no projeto da construção passo a passo e explicar a meus pais como seria, aí recebeu um adiantamento e ao invés de (3)executar a construção achou mais fácil procurar outro serviço para fazer (#¨#%ù&**!!). O cérebro da maioria das pessoas, na maioria dos projetos, funciona do mesmo jeito: passa-se um tempo masturbando mentalmente na segunda etapa - que na verdade se trataria da última etapa que é o objetivo já completo - e deixa de lado a etapa intermediária do caminho a ser percorrido para alcançar o objetivo.
           O problema é que o que ocorre muitas vezes é uma grande perda de tempo, pois se passa um bom tempo fazendo um generoso investimento libidinal no pensamento de um objetivo, depois em outros, desperdiçando o tempo que deveria estar sendo usado na execução - que é o que realmente vai levar ao cumprimento do objetivo.
           O projeto tem em seu horizonte o sucesso, mas focar a consciência no horizonte é um ledo engano. O foco deve estar na estrada; no próximo passo, onde a pern alcança. Podemos enxergar muito mais claramente se a perna alcança o próximo passo, então devemos procurar o gozo no próximo passo. Por exemplo, ninguém vai emagrecer antes de descobrir o quanto é prazeroso dar uma corridinha, respirar, sentir a disposição física que vem logo nas primeiras vezes; ninguém vai se tornar um grande músico antes de descobrir o prazer em adquirir novas coordenações, novas percepções, uma opinião mais elaborada sobre tudo que é ouvido. O próximo passo é agora e deve ser mais prazeroso do que contemplar o horizonte, que nunca será alcançado...